terça-feira, 19 de maio de 2009


Eram três da madrugada, os anjos eram vestidos de preto, alguns com o rosto desfigurado, suas asas eram queimadas nas pontas e exalavam cheiro de enxofre, eles olharam para a moça que entrou no carro azul desbotado, mas logo voltaram o olhar para o que os interessava: o cadáver estirado no chão.Um dos anjos caídos se esqueceu do morto por um minuto, observava a moça dando a partida, ale não percebeu o corpo a poucos metros do carro, a noite sem lua não a deixa ver mais do que o farol ilumina. O anjo continua sentado no galho da arvore alta observando o carro se afastar e nesse momento finalmente a alma do homem sai de seu corpo inútil, ele chora e tem os olhos negros cheios de lagrimas turvas, os anjos vão para cima do espírito e o seguram, seus gritos de desespero quebram o silencio da noite. O anjo continua sentado no galho olhando para o carro, agora muito longe, ele olha para seus companheiros ocupados e salta da arvore voando em direção ao único carro dirigindo àquela hora. Ela dirige por alguns minutos ate chegar ao prédio cinza, ela não olha pra trás e mesmo que olhasse enxergaria o anjo gótico a seguindo. Muitas chaves, muitas escadas, muitas trancas ate entrarem no apartamento 410. Ela joga mochila preta no chão, aperta um botão e uma musica lenta do The Cure começa a tocar, ela vai para o quarto, o anjo parado no corredor observa o pequeno apartamento: um sofá, uma mesa branca, uma cadeira azul, desenhos e posters nas paredes, fogão, geladeira quebrada, tanque rachado, e uma grade estante com tv, som, brinquedos velhos, DVDs e porta retratos empoeirado.
-Agora me lembro de onde a conheço.
Ele já havia buscado sua família, já a vira três vezes: uma com quatro anos, quando viera buscar sua mãe, ela chorava desesperada imaginando a vida sozinha, aos 15 ele buscara o irmão mais novo, ela estava ajoelhada no chão chorando em silencio do lado da cama cheia de seringas e vomito, e por fim a quatro anos atrás ele buscara seu pai que estava com uma garrafa na mão e a cabeça toda ensangüentada, desse vez ela não chorou nem um pouco. Todos eram pessoas ruins, seus espíritos tinham olhos negros e ele os levara para um lugar que alguns chamam de inferno, ate terem outra chance... mas aquela moça com os cabelos castanhos era totalmente diferente,seus olhos verdes e boca rosada pareciam de outro mundo, ele já vira seu espírito enquanto ela dormia, tinha olhos tranqüilos e brancos diferentes dos dele e em suas costas pequenas asas que se desenvolverão completamente após a morte dela,mais um anjo de luz, tão raros nos dias atuais... Ela voltou para sala com um shorts e uma blusa larga, desligou o som e ligou a TV jogando-se no sofá, dois minutos assistindo o noticiario a fez levantar e colocar um dvd infantil, o anjo riu e jogou-se no sofá ao seu lado e cometeu um erro: deixou que uma das penas de suas asas queimadas voasse e caísse suavemente em sua perna esquerda. Seu olhar voltou-se para ele, seu olhar encheu-se de pânico, ela gritou, pegou uma faca de cozinha.
-Quem é você? Como entrou aqui?
-Eu...não tenho nome, por favor acalme-se, não vou te fazer mal nenhum.
Ela olhou suas roupas pretas rasgadas, seus olhos unhas e cabelos negros e uma cruz invertida desenhada em sua bochecha pálida, quase um vampiro se não fosse por suas grandes asas brancas com as pontas queimadas.
-O QUE é você então? Um... anjo?- Sua voz estava tremula.
-Quase um anjo Marie,-ele sorriu- um anjo caído que não lembra da própria identidade.
-E sabe a minha?
-Eu fui castigado depois de consolar em meus braços aquela menininha inocente e chorona... – Ela estremeceu e não percebeu quando a faca cai no chão.
-Quando a minha mãe morreu?
-Meu castigo foi esquecer meu nome e meu passado, você eh a minha memória mais antiga.
-E eu? Vou... morrer?- Ele sorriu.
-Não, quando morrer você não vai me ver, vira um anjo vestido de branco com os olhos brancos para te guiar. Agora você pode me ver por que eu encostei em você.
-E vai ser castigado?
-Acho que não se eu for agora. -Ele virou-se e sentou na janela com as pernas para fora- Mas provavelmente eu vou ser proibido de te ver, então adeus Marie.
-Adeus Luan.- Ele sorriu e disse com uma voz triste:
-Tenho que ir...
Se jogou e ela correu para a janela e o viu voando ao longe no escuro, ela sentou no sofá e ficou alguns minutos parada,depois levantou-se e colocou a pena branca com a ponta queimada dentro de um livro.
Nini

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