domingo, 7 de setembro de 2008

Adaptado por: Nini atual
Historia original: Nini de 1999

Relatos de uma bruxa

Alguns anos atrás o conceito de “bruxa” era sinônimo de morte, o suicídio era muito simples, bastava você ser diferente ou disser que era uma bruxa, um pouco depois a humanidade de certa forma evoluiu um pouco e, com algum preconceito menos radical, as pessoas que cultuavam outras religiões puderam sair um pouco de suas tocas secretas. Não estamos falando de hoje, mas sim de alguns anos atrás... para ser mais exata, eu vivia na cidade de Hiroshima, vivi lá quase cem anos até vir para o Brasil, e essa historia se passa em agosto de 1945.
Na idade humana eu provavelmente teria mais ou menos dez anos e vivia misturada a crianças mortais de cabelos pretos e lisos e olhos pequenos conhecidas como japonesas, vivia com a minha mãe que sempre me dizia que eu tinha talento para magia, só deveria parar de usar esse don para fazer flores desabrocharem e bonecas aparecerem criadas de terra, ela dizia que tinha que pensar mais alto...
No dia 5 de agosto daquele ano eu estava na cozinha de nossa pequena casa, eu estava com os cabelos trançados lendo outro livro de alquimia quando ouvi algumas pessoas conversando perto da janela, como uma espiã foi de fininho até lá e vi que eram dois soldados, e estavam falando a chamada Segunda guerra mundial que estava acabando. Naquela noite eu não consegui dormir... Sem que minha mãe me percebesse fui até um quartel militar montado a alguns minutos da minha casa, um soldado estava falando no radio, ele dizia que um avião B-29, batizado de "Enola Gay", pilotado por Paul Warfield Tibbets Jr, estava vindo em direção a nossa cidade, achei estranho, mas o soldado não tinha certeza de que o avião vinha mesmo para essa cidade.
Voltando pra casa depois da minha experiência de “espiã” quando cheguei em casa dei de cara com minha mãe com os olhos esbugalhados
-Onde você estava?-Fiquei pálida - Não importa! Pegue suas coisas vamos embora!
-Embora? Por que?
-Filha,tive um sonho terrível, algo enorme cairá nessa cidade, tudo vai pegar fogo, mais que fogo, tudo e todos vão virar pó, temos que sair daqui o mais rápido possível!
Eu me assustei, de repente também tive uma visão terrível: meus amiguinhos de cabelos pretos e lisos chorando segurando as saias de suas mães e de repente algo vermelho, e eles viram pó. Ia chorar mas pensei rapidamente:
-Mãe! Eu vou fazer alguma coisa!
-Não seja louca, uma bruxinha de apenas duzentos anos como você o que poderá fazer diante essas armas novas humanas?
-Vou dar um jeito!
Nesse momento desapareci, e imaginei a expressão de desespero que minha mãe fez, mas tinha algo a fazer. Eu já tinha lido sobre teletransporte, eu estava agora no avião B-29 a muitos metros de altura do chão e a muito mais de casa, mas o avião estava indo pra lá, tinha certeza. Estava na parte de trás do avião, ele era enorme e nele algo de metal, e era aquilo que ia destruir tudo, algo pequeno em relação à cidade... O que aquelas pessoas tinham na cabeça? Sentei e ia chorar, mas não podia naquele momento, cheguei mais perto, o nome daquilo era “little boy” ou “pequeno garoto”.Pra quê um nome tão fofo com algo que ia exterminar tantas vidas de tantos garotos pequenos? Não era hora de pensar nisso também ... Eu sentei , coloquei minhas mãos no metal frio e me concentrei. Eu fiquei lá durante horas, estava exausta, deveriam ser sete de manhã quando adormeci.
Acordei assustada com o vento e o barulho eram 8 e 43 da manhã, uma “porta” tinha sido aberta do lado de baixo do avião, estava muito frio, olhei pra baixo e em um segundo eu estava em casa, no meu quarto, rapidamente olhei pela janela e vi o avião lançando a bomba, todos os vizinhos gritavam muito assustados para perceber meu sorriso aliviado.
O avião enorme lançou a bomba, e enquanto ela caia mais grito, mas para a surpresa do piloto algo deu errado, ele gritou no radio “A bomba! A bomba explodiu antes da hora!”. A bomba explodiu em pleno ar, e de dentro dela saiu o fogo vermelho : fogos de artifício! Todos pararam de gritar e olharam pro céu: fogos lindos, maravilhosos e tão vermelhos que apareciam no céu claro como se fosse noite. Havia algo a mais! Enquanto os fogos explodiam no céu azul daquela manhã flores de cerejeira caiam, as pétalas deixaram a cidade cor-de-rosa, como o piloto de avião, as pessoas estavam de boca aberta quando viram que não tinham morrido, ao invés disso aquele espetáculo lindo... Corri para a rua e comecei a brincar com as outras crianças naquela chuva maravilhosa de pétalas.
Enquanto dançava a minha mãe me olhava de longe com lagrimas nos olhos e um sorriso, corri pra ela e agradeci por não ter tentado me impedir, ela disse pra eu guardar segredo da minha autoria do espetáculo. Alguns dias depois vários paises estavam sendo “bombardeados” com pétalas de flores diferentes e de cores diferentes, o mais legal era que nem todos os “ataques” tinham a minha magia, alguns paises realmente estavam, lançando flores nas outras cidades. Praticamente o mundo todo ficou colorido e perfumado,as flores secaram e se transformaram e sementes que se transformaram de flores novamente.
Isso já faz tanto tempo... Mas acho que preciso reler aquele livro de alquimia, quero ver o que consigo fazer hoje...Será que ainda dá tempo? Ninguem mais acredita em bruxas...


Pss: no mundo real o que aconteceu foi que "Little Boy" foi explodido e instantaneamente, os prédios desapareceram junto com a vegetação, transformando Hiroshima num campo deserto. Num raio de 2 quilômetros, do hipocentro da explosão, tudo ficou destruído. Uma onda de calor intenso, emitia raios térmicos, como a radiação ultravioleta, a humanidade conheceu a mais terrível criação da tecnologia, foi lançada a primeira bomba atômica em alvo humano. Aproximadamente 70.000 pessoas foram mortas,incluindo as crianças de cabelos negros lisos e olhos pequenos, como um resultado directo da explosão, e um número parecido de pessoas foram feridas. Um maior número de pessoas foram morrendo após a explosão devido ao resultado de radiações. Muitas mães grávidas perderam os seus filhos e noutros casos crianças nasceram com deformações, mas não existe consenso sobre o real número total de vítimas mortais.

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